Então eu tinha 3 lojas financiadas, empréstimos em 7 contas corrente, 1 carro financiado, 2 apartamentos financiados, cartão de crédito estourado (pagando o mínimo), alguns boletos de fornecedores começaram a vencer, alguns eram pagos com atrasos, mas outros iam pro cartório. Começamos a perder crédito na praça, as mercadorias começaram a faltar nas lojas, precisamos baixar os salários de alguns funcionários.
O cansaço era enorme, nosso apartamento no Guarujá vivia vazio, não havia disposição física pra encarar a serra, as saídas a noite diminuíram, não pela grana ter encurtado (nunca sobrou dinheiro pra balada, a gente fazia sobrar) mas sim por falta de disposição física. Os amigos de balada se distanciaram, perdemos alguns clientes e começaram os fuxicos na família, dizendo que o Felix e o Sávio estavam quebrando. Isso era verdade, mas a gente achava que não. Aquela vida desregrada já estava cansando.
Certo dia, um sábado, estava saindo de uma das lojas quando 2 indivíduos de moto me abordaram, pensei que era um assalto, mas foi pior, me enfiaram no banco de trás, sabiam quem eu era e queriam dinheiro. Não havia argumentos, como explicar pra 2 bandidos que o dono de uma rede de lojas conhecida na região estava no vermelho e que não tinha dinheiro algum? Fomos em 3 caixas eletrônicos, não tinha dinheiro pra sacar, as contas estavam no vermelho. Pra resumir, me deixaram numa favela, com carro e tudo, mas antes atiraram em mim. Sorte que a mira foi ruim e pegou no pé esquerdo.
Fui levado pro hospital numa viatura da Rota. Sofri 3 cirurgias, fiquei 3 semanas hospitalizado e um longo tempo de repouso em casa. A situação das empresas que já era ruim ficou ainda pior, não tinha como o Sávio dar conta de tudo sozinho. Ele passou a ter insônia, e quando eu estava quase recuperado teve uma arritmia ventricular que o levou ao hospital. As lojas ficaram 1 semana sem nenhum dono aparecer.
Nem preciso dizer que foi uma fase muito complicada, fora os problemas físicos, sofremos muito com depressão, ficamos muito mal. Nossa vida estava de ponta cabeça: saúde debilitada, dívidas agora fora do controle e ainda por cima as lojas sem mercadorias, com faturamento caindo a cada dia. Os "amigos" desapareceram, os parentes só sabiam sentir dó, mas não ajudavam. Precisávamos fazer alguma coisa.
Continua...
segunda-feira, 28 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
Vida profissional III
5 anos depois de comprar nossa primeira lojinha, estávamos com
4. O faturamento estava bom, estabilizado na primeira e crescente nas demais.
Pagávamos os empréstimos sem problemas. Nosso ritmo de trabalho só aumentava,
nunca deixamos de trabalhar 14 horas por dia, mas correndo de um lado pro outro
já que as lojas eram em regiões diferentes. Nossas tarefas eram bem divididas,
o Sávio chegou a fazer um cursinho de adm que ajudou bastante.
O apartamento ficou pronto, mobilhamos, adivinha como?
Claro, com cartão de crédito já que a gente nunca tinha dinheiro na mão.
Mudamos. Nessa época saíamos muito de
noite, sempre curtimos baladas, várias vezes a gente saia da balada e ia direto
pras lojas, as vezes bêbados. O ritmo de trabalho cansava muito e nos trazia
muita limitação, nunca conseguimos fazer uma viagem de mais de 3 dias, não
podia nem pegar uma gripe e ficar de molho em casa! Todos nos elogiavam, afinal
trabalhar muito é status na sociedade, pessoas importantes estão sempre trabalhando,
em reuniões e correndo. A gente também acreditava
nisso!
Conseguimos parar de trabalhar aos finais de semana, nos
organizamos de tal maneira a deixar um pouco o operacional das lojas nas mãos
dos funcionários. Acreditamos que ter um bom software de gerenciamento e
circuito interno de câmeras seriam suficientes pra garantir o gerenciamento do
negócio. Então passamos a ficar os
finais de semana em casa, mas não sabíamos o que fazer, já que nossa rotina
sempre foi trabalhar. Decidimos comprar um apartamento na praia pra ter onde
ir. E assim foi, compramos um apartamento no Guarujá dando meu carro como
entrada (tive que quita-lo as pressas fazendo um empréstimo na pessoa física) e
financiando o resto.
O faturamento começou a cair, mas as prestações continuavam.
O cheque especial já não era o bastante, fomos obrigados a dar um passo atrás e
nos desfazemos da primeira lojinha. Conseguimos estabilizar as outras 3. O
faturamento delas variava bastante mas sempre dava pra fechar o mês no azul
(quer dizer, devendo menos de R$20 mil no cheque especial).
Foi nessa época que sofri o sequestro e tudo mudou, mas isso
vou falar na próxima postagem.
sábado, 26 de maio de 2012
Vida profissional II
Quando compramos nossa primeira lojinha, além de não ter
capital algum pra investir nela, ainda tínhamos muita dívida. Logo na primeira
semana nos demos conta que por mais lucrativa que a loja era, havia muita
concorrência de qualidade superior. Nosso maior problema era falta de mercadoria,
acabamos fazendo empréstimos nas 3 contas da empresa pra custear nosso começo.
Então nossa situação era a seguinte: Não tínhamos mais carros; morávamos em uma
cidade distante da empresa; devíamos cerca de R$50 mil a nossos pais; R$100 mil
nos bancos; R$50 mil ao antigo proprietário; o cheque especial era o capital de
giro; nossa experiência no ramo não era suficiente pra administrar.
Era uma história fadada pro fracasso e as chances de fechar
as portas eram enormes, mas felizmente (ou não) trabalhamos muito (mais de 14
horas por dia de domingo a domingo) e a coisa foi melhorando, arrumamos mais
clientes, estocamos a lojinha e íamos pagando os empréstimos. Logo sobrou
espaço pra prestações, compramos 2 carros populares zero.
Uns 2 anos depois ainda estávamos pagando, o faturamento
estabilizou e já tínhamos aprendido muito com nossos erros, acreditávamos que
era só questão de tempo pra acabar de pagar e a loja ser finalmente nossa. A
gente considerava estabilizado, mas nunca deixamos de usar o cheque especial da
empresa.
Um colega queria se
desfazer da sua loja e nos fez uma proposta: venderia sem entrada em 48x. Não
tinha como não topar! A segunda loja sofria do mesmo problema que a primeira
que era falta de mercadoria, mais uma vez apelamos pros empréstimos pra tentar
estoca-la. E assim foi, contratamos funcionários, trabalhamos mais ainda e deu
certo. Trocamos os carrinhos populares por 2 sedãs médios, sem ao menos acabar
de pagar os primeiros. Decidimos ir morar juntos, compramos um apartamento na
planta.
Aí, a antiga rede que trabalhamos se dissolveu, os sócios
desmancharam a sociedade e decidiram mudar de ramo. Compramos duas das lojas,
inclusive aquela em que trabalhamos. Loucura! A situação dessas era pior,
estavam quebradas, mas novamente apelamos pra empréstimos e levantamos.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Vida profissional
Eu e Sávio trabalhamos durante 3 anos numa pequena rede de
lojas de comércio, algo bem comum mesmo. Aprendemos muito nesse tempo,
aprendemos a parte operacional e eu aprendi um pouco da parte burocrática do
negócio pois cheguei a ser gerente, o Sávio recusou esse convite, preferiu
ficar no operacional.
O sonho de todos os peões daquela empresa era ter uma
lojinha daquele ramo. Na época era algo bem rentável, ouvíamos histórias de
colegas que estavam se dando bem como donos. Haviam oportunidades de compra
dessas lojas aos montes, e como a gente estava trabalhando no ramo, os negócios
apareciam aos montes.
Nosso salário era bom, cerca de R$2 mil no começo dos
anos 2000. Eu tinha um carro popular com 3 anos de uso e o Sávio também, mas o
dele era um pouco mais velho. Também tínhamos um dinheirinho na poupança. Não precisávamos ajudar em casa, mas gastávamos
muito dinheiro com noitadas.
Um dia eu peguei um jornal de anúncios e me deparei com um
anúncio de uma lojinha. Não era tão pequena, até que tinha um bom faturamento e
claro, o preço era alto. Fomos visitar, adoramos o ponto, as instalações e
vimos uma excelente oportunidade de começar nosso próprio negócio. Vendemos os
carros, raspamos nossas poupanças, pegamos dinheiro emprestado de familiares,
assumimos 36 parcelas com o antigo proprietário e encaramos o desafio mesmo
sendo algo bem acima da nossa capacidade.
Vou detalhar em outro post, mas pra resumir não tínhamos capital
de giro, o que nos obrigou a pegar empréstimos. O negócio cresceu, mesmo usando
capital de terceiros, conseguíamos expandir e nos manter. Outras oportunidades de
comprar lojinhas apareceram, chegamos a ter 4 lojas. Todas compradas com
empréstimos, parcelas, promissórias, rolos, etc.
Sofri um sequestro relâmpago, levei um tiro, fiquei
hospitalizado. O Sávio quase ficou louco cuidando das empresas e de mim.
Sobrevivi sem sequelas além de 8kg a mais por ter ficado um longo tempo sem
malhar.
Paramos pra analisar e nos demos conta que a vida é muito
frágil, que nosso patrimônio de quase 3 milhões de reais não era nosso já que
estava tudo financiado. Decidimos simplificar a vida, vendemos tudo, acertamos
nossos empréstimos e recomeçamos com o pouco que sobrou.
Vida pessoal
Eu sei que a vida pessoal não costuma ter muita importância,
que vocês querem saber sobre minha vida financeira, mas achei importante falar
de mim antes de falar do meu dinheiro.
Como eu disse na apresentação, tenho 35 anos, moro na
capital de São Paulo, adoro esse lugar, não me imagino longe dessa loucura de
cidade, das baldas, dos parques, da diversidade. Tenho formação superior numa área que amo, mas
nunca consegui me dedicar da maneira que tenho vontade.
Sou bissexual, tenho uma união estável com um homem, o Sávio,
a uns 15 anos. Temos uma relação maravilhosa, mas nosso “casamento” é aberto,
ou seja, nos relacionamos com outras pessoas (homens e mulheres), inclusive
fazemos festinhas em casa... Nossa família sabe da nossa posição sexual e nos
apoiam de maneira incondicional, nunca tivemos problemas com isso.
O Sávio é mais que um companheiro afetivo, é meu sócio. Nos
conhecemos no colégio, ficamos um tempo afastados e nos reencontramos no
trabalho. Coincidentemente fomos trabalhar na mesma empresa e foi nessa época
que começamos a namorar. Cursamos faculdade juntos, ele num curso e eu em
outro, mas na mesma faculdade.
Éramos muito jovens e na empresa que trabalhávamos o sonho
de todos era ter um negócio próprio. Seguimos a manada, abandonamos nossa
profissão formal logo depois de acabar a faculdade, vendemos nossos carros,
pegamos dinheiro emprestado com a família e compramos nossa primeira
lojinha. Vou detalhar mais depois, mas
pra resumir por hora, chegamos a ter 4 lojas e hoje não temos mais nenhuma.
Moramos juntos num apartamento próprio na região central da
cidade, não temos carros, levamos uma vida bem simples, mas nem sempre foi
assim, houve um tempo que ostentávamos e vivíamos de aparência, cercados de
“amigos”, éramos figurinhas certas do high
society, tínhamos carros legais, apartamento em praia sofisticada e quase
compramos um barco. Mas essa farra toda era baseada no crédito...
Com licença, gostaria de me apresentar...
Olá, meu nome é Felix, tenho 35 anos, moro em São Paulo
capital.
Fazem uns 3 meses que venho acompanhando os blogs de
finanças e boom causado pelo ranking do Pobretão. Conheci muita gente interessante e que pensa de forma similar: Ostra, Corey entre outros. Decidi criar esse blog para
compartilhar da minha experiência, que não é tanto a busca pela independência
financeira, mas sim pra obter qualidade de vida.
O nome do blog é devido a minha característica pragmática e
racional ao extremo, sou um cara totalmente diferente da maioria, e assim como
outros blogueiros, me sinto um peixe fora d’água nesse mundo e não só na parte
financeira. Ler o blog de vocês me fez refletir muito sobre minha vida e me deu
um certo acalanto por saber que não sou o único a pensar contra a manada.
Por que sou diferente da maioria? Procuro ser racional em
tudo que vou fazer, sou ateu, cético, bissexual, anarquista, apolítico, etc.
Não consigo manter um convívio saudável com boa parte das pessoas, não quero
filhos ou cachorros, não gosto de ler, adoro ficar ocioso e consumir conteúdo
desnecessário, não tenho televisão.
Não pretendo fazer muitas atualizações nesse blog, também
não sei se serei bem vindo e se lerão minhas opiniões, mas quero escrever pra
tentar ajudar pessoas que se sentem na mesma situação que eu: perdidas!
Gostaria de abrir um debate saudável sobre como escapar das convenções sociais.
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