terça-feira, 3 de julho de 2012

A nova vida profissional

Ficamos alguns meses sem trabalhar, mas claro que não ia dar pra ficar assim pra sempre. Nem sonhamos mais em ter empresas novamente, não queremos isso de novo, os problemas, as tentações, os funcionários. Isso tudo passou e serviu de lição que não é isso que esperamos da vida. Com certeza se a gente procurasse começar com outra loja novamente seria diferente, não entraríamos em dívidas e tenho convicção que conseguiríamos ganhar um bom dinheiro.

Acontece que não vejo sentido em ganhar muito dinheiro, não precisamos de muito. Simplificamos nossa vida de uma tal forma que R$2 mil é mais do que suficiente pra gente passar o mês. Além disso, ainda sobrou um dinheirinho que estamos investindo (falarei depois), o que pode nos trazer alguma tranquilidade no futuro.

O Sávio passou a trabalhar com algo que ele gosta muito, é um serviço meio pesado, mas ele adora, tem a vantagem de poder escolher o dia que deseja trabalhar, atualmente ele trabalha 2 ou 3 dias no mês. Ganha entre R$1 mil e R$1,5 mil por mês. Boa parte dos clientes dele estão no nosso prédio e nas redondezas, então não há despesa alguma.

Eu também arrumei um trabalho que não me estressa muito e é algo que gosto de fazer, também consigo ganhar mais ou menos a mesma coisa que o Sávio, mas trabalho mais dias. Preciso só pegar o metrô e rapidinho chego no trabalho. Estou pensando em comprar uma bicicleta pra fazer o trajeto.

Tanto eu quanto o Sávio temos opção de expandir os dias e horários de trabalho e ganhar mais dinheiro, mas racionalmente isso não nos interessa. Do jeito que estamos, conseguimos sair 2 ou 3x por semana e programar viagens, que é algo que nunca conseguimos fazer quando eramos donos das lojas. Além disso, conseguimos malhar duas vezes por dia, frequentamos muitas das opções de lazer gratuito que existe em São Paulo, estamos reativando velhas amizades e o Sávio frequenta uma templo religioso.

Não consigo entender como perdi mais de 10 anos da minha vida me matando de trabalhar, quase morri com um tiro e pela depressão pra no final me dar conta que nada disso valeu a pena.

Posso soar meio poético, mas tudo o que preciso é estar perto das pessoas que amo e ganhar um dinheiro suficiente pra me manter fazendo algo que me dá prazer.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

O fim das dívidas

Fizemos as contas e vimos que os R$5 mil que a gente tinha era suficiente pra apenas 2 meses, passando apertado. Começariamos a receber a prestação da loja que vendemos pros funcionários somente após 1 ano, então não estavamos muito confortáveis, muito pelo contrario, a gente vivia cansado, a saúde também não ia muito bem.

Decidimos que deveriamos reduzir o máximo possível o tamanho de nossas despesas, e pra isso o primeiro passo era nos livrar do financiamento do apartamento. Nesse momento a kitnet que ninguém queria comprar se tornou uma peça chave. Decidimos morar nela. Conversamos com um parente que é negociador de imóveis que topou comprar nosso apartamento, mais uma vez praticamente demos o imóvel a troco da dívida. Ele nos deu R$10 mil e um carro que juntos não eram nem 30% do que haviamos pagos pelo apartamento. Essa era a única saída e topamos na hora. Com esse dinheiro reformamos a kitnet e por sorte o prédio que estava quase totalmente abandonado começou a ser restaurado e mais pessoas começaram a mudar pra cá.

Isso demorou cerca de 3 meses, até que foi rápido, vendemos o carro que pegamos no negócio do apartamento e também o outro que a gente usava. Ficamos a pé, mas com um dinheirinho que nos manteria por algum tempo, decidimos não ter mais carros porque morando no centro, a 100m de uma estação de metro o carro seria totalmente desncessário. Foi nessa época que começamos a ler os blogs e pesquisar sobre investimentos. Pela primeira vez em mais de 10 anos a gente tinha um patrimônio positivo!!! Esse foi um dos melhores momentos da nossa vida. Finalmente não havia carnês, promissórias nem prestações. Nossas unicas despesas eram o condominio, luz, gás, internet e supermercado.

Não precisavamos ficar horas por dia fazendo balanços, pagamentos e contas pra saber quanto faltava pra quitar as dividas. Houve um dia que comecei a chorar e rir ao mesmo tempo, de tão feliz e livre que me senti. Era estranho: um cara que andava de carro de luxo, morava num apartamento enorme, era visto como empresário de sucesso, gastava horrores com baladas, vivia cercado de pessoas de alto nível podia se sentir feliz morando num apartamento de 25m² e dependendo de condução.

No proximo post vou falar da nova vida profissional.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A hora da virada II

Voltei! Fiquei com preguiça de escrever, mas vi pessoas interessadas em saber da minha história que decidi voltar. Acho que meu exemplo pode ajudar as pessoas a não cairem em ciladas. Agradeço as visitas que tive e também ao Corey por ter me citado no blog dele.

Então nossa situação era a seguinte: lojas quebrando, muitas dívidas, saúde debilitada, um patrimônio enorme que na realidade era negativo. Além de tudo isso, a gente não tinha saco pra continuar tocando as lojas, aquilo tudo tinha perdido o encanto.

Decidimos por um ponto final naquilo. Um sábado a noite resolvemos colocar tudo no papel: dívidas pessoais, dívidas das lojas, etc. Passamos a madrugada inteira fazendo esse trabalho, a gente não tinha ideia do tamanho do problema. Concluímos que mesmo vendendo tudo o que a gente tinha, ainda nos faltaria mais cerca de 100 mil reais pra quitar tudo. Bolamos de maneira bem simplista um plano de ação: Decidimos fechar a loja que tinha o pior faturamento; estocar a melhor loja e tentar mante-la no azul até conseguir pagar tudo, a outra ficaria de lado, pelo menos pagando as despesas. Manteríamos o apartamento de São Paulo e venderíamos o do Guarujá, o carro foi trocado por outro usado quitado.


E assim foi: conseguimos vender a loja que fechamos, o comprador levou as instalações pra outro ponto, com esse dinheiro estocamos a loja melhor (a vista), a outra apenas mantinha as despesas em dia. Vendemos o apartamento do Guarujá, pegando no negócio uma kitnet num prédio degradado do centro de São Paulo, 5 mil reais e transferimos a dívida. Colocamos essa kitnet a venda, mas era dificil porque o estado de conservação não era dos melhores. Demitimos muitos funcionários e passamos a trabalhar dobrado na loja melhor, todo o dinheiro que ela rendia ia pra pagar dívidas. Precisamos fechar a outra loja, que já não estava nem pagando suas despesas. Mais uma vez vendemos as instalações por uma merreca. 


Com apenas uma loja, fomos conseguindo dinheiro e pagando as contas que ainda restavam, nosso ramo passou a ficar cada vez menos lucrativo e mesmo com um bom faturamento, não viamos perspectivas de melhora, além disso a gente já não tinha mais tesão por trabalhar. Decidimos vender a loja enquanto ainda era tempo, descansar e ver o que fazer da vida depois. A gente não encontrava ninguém disposto a comprar a loja, o faturamento começou a cair, então pra não ter um prejuizo ainda maior, praticamente demos a loja de presente pra 2 funcionários.


Quando vendemos a última loja, a gente tinha um carro popular de 15 anos, 5 mil reais em dinheiro, mais de 20 anos do financiamento do nosso apartamento de São Paulo (que não conseguimos vender) e as despesas com condomínio e luz da kitnet (que ninguém queria comprar).

Na próxima falarei como foi nosso período de descanso.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A hora da virada

Então eu tinha 3 lojas financiadas, empréstimos em 7 contas corrente, 1 carro financiado, 2 apartamentos financiados, cartão de crédito estourado (pagando o mínimo), alguns boletos de fornecedores começaram a vencer, alguns eram pagos com atrasos, mas outros iam pro cartório. Começamos a perder crédito na praça, as mercadorias começaram a faltar nas lojas, precisamos baixar os salários de alguns funcionários.

O cansaço era enorme, nosso apartamento no Guarujá vivia vazio, não havia disposição física pra encarar a serra, as saídas a noite diminuíram, não pela grana ter encurtado (nunca sobrou dinheiro pra balada, a gente fazia sobrar) mas sim por falta de disposição física. Os amigos de balada se distanciaram, perdemos alguns clientes e começaram os fuxicos na família, dizendo que o Felix e o Sávio estavam quebrando. Isso era verdade, mas a gente achava que não. Aquela vida desregrada já estava cansando.

Certo dia, um sábado, estava saindo de uma das lojas quando 2 indivíduos de moto me abordaram, pensei que era um assalto, mas foi pior, me enfiaram no banco de trás, sabiam quem eu era e queriam dinheiro. Não havia argumentos, como explicar pra 2 bandidos que o dono de uma rede de lojas conhecida na região estava no vermelho e que não tinha dinheiro algum? Fomos em 3 caixas eletrônicos, não tinha dinheiro pra sacar, as contas estavam no vermelho. Pra resumir, me deixaram numa favela, com carro e tudo, mas antes atiraram em mim. Sorte que a mira foi ruim e pegou no pé esquerdo.

Fui levado pro hospital numa viatura da Rota. Sofri 3 cirurgias, fiquei 3 semanas hospitalizado e um longo tempo de repouso em casa. A situação das empresas que já era ruim ficou ainda pior, não tinha como o Sávio dar conta de tudo sozinho. Ele passou a ter insônia, e quando eu estava quase recuperado teve uma arritmia ventricular que o levou ao hospital. As lojas ficaram 1 semana sem nenhum dono aparecer.

Nem preciso dizer que foi uma fase muito complicada, fora os problemas físicos, sofremos muito com depressão, ficamos muito mal. Nossa vida estava de ponta cabeça: saúde debilitada, dívidas agora fora do controle e ainda por cima as lojas sem mercadorias, com faturamento caindo a cada dia. Os "amigos" desapareceram, os parentes só sabiam sentir dó, mas não ajudavam. Precisávamos fazer alguma coisa.

Continua...

domingo, 27 de maio de 2012

Vida profissional III


5 anos depois de comprar nossa primeira lojinha, estávamos com 4. O faturamento estava bom, estabilizado na primeira e crescente nas demais. Pagávamos os empréstimos sem problemas. Nosso ritmo de trabalho só aumentava, nunca deixamos de trabalhar 14 horas por dia, mas correndo de um lado pro outro já que as lojas eram em regiões diferentes. Nossas tarefas eram bem divididas, o Sávio chegou a fazer um cursinho de adm que ajudou bastante.


O apartamento ficou pronto, mobilhamos, adivinha como? Claro, com cartão de crédito já que a gente nunca tinha dinheiro na mão. Mudamos.  Nessa época saíamos muito de noite, sempre curtimos baladas, várias vezes a gente saia da balada e ia direto pras lojas, as vezes bêbados. O ritmo de trabalho cansava muito e nos trazia muita limitação, nunca conseguimos fazer uma viagem de mais de 3 dias, não podia nem pegar uma gripe e ficar de molho em casa! Todos nos elogiavam, afinal trabalhar muito é status na sociedade, pessoas importantes estão sempre trabalhando, em reuniões e correndo.  A gente também acreditava nisso!


Conseguimos parar de trabalhar aos finais de semana, nos organizamos de tal maneira a deixar um pouco o operacional das lojas nas mãos dos funcionários. Acreditamos que ter um bom software de gerenciamento e circuito interno de câmeras seriam suficientes pra garantir o gerenciamento do negócio.  Então passamos a ficar os finais de semana em casa, mas não sabíamos o que fazer, já que nossa rotina sempre foi trabalhar. Decidimos comprar um apartamento na praia pra ter onde ir. E assim foi, compramos um apartamento no Guarujá dando meu carro como entrada (tive que quita-lo as pressas fazendo um empréstimo na pessoa física) e financiando o resto.


O faturamento começou a cair, mas as prestações continuavam. O cheque especial já não era o bastante, fomos obrigados a dar um passo atrás e nos desfazemos da primeira lojinha. Conseguimos estabilizar as outras 3. O faturamento delas variava bastante mas sempre dava pra fechar o mês no azul (quer dizer, devendo menos de R$20 mil no cheque especial).


Foi nessa época que sofri o sequestro e tudo mudou, mas isso vou falar na próxima postagem.

sábado, 26 de maio de 2012

Vida profissional II


Quando compramos nossa primeira lojinha, além de não ter capital algum pra investir nela, ainda tínhamos muita dívida. Logo na primeira semana nos demos conta que por mais lucrativa que a loja era, havia muita concorrência de qualidade superior. Nosso maior problema era falta de mercadoria, acabamos fazendo empréstimos nas 3 contas da empresa pra custear nosso começo. Então nossa situação era a seguinte: Não tínhamos mais carros; morávamos em uma cidade distante da empresa; devíamos cerca de R$50 mil a nossos pais; R$100 mil nos bancos; R$50 mil ao antigo proprietário; o cheque especial era o capital de giro; nossa experiência no ramo não era suficiente pra administrar.


Era uma história fadada pro fracasso e as chances de fechar as portas eram enormes, mas felizmente (ou não) trabalhamos muito (mais de 14 horas por dia de domingo a domingo) e a coisa foi melhorando, arrumamos mais clientes, estocamos a lojinha e íamos pagando os empréstimos. Logo sobrou espaço pra prestações, compramos 2 carros populares zero.


Uns 2 anos depois ainda estávamos pagando, o faturamento estabilizou e já tínhamos aprendido muito com nossos erros, acreditávamos que era só questão de tempo pra acabar de pagar e a loja ser finalmente nossa. A gente considerava estabilizado, mas nunca deixamos de usar o cheque especial da empresa.


Um colega queria se desfazer da sua loja e nos fez uma proposta: venderia sem entrada em 48x. Não tinha como não topar! A segunda loja sofria do mesmo problema que a primeira que era falta de mercadoria, mais uma vez apelamos pros empréstimos pra tentar estoca-la. E assim foi, contratamos funcionários, trabalhamos mais ainda e deu certo. Trocamos os carrinhos populares por 2 sedãs médios, sem ao menos acabar de pagar os primeiros. Decidimos ir morar juntos, compramos um apartamento na planta.


Aí, a antiga rede que trabalhamos se dissolveu, os sócios desmancharam a sociedade e decidiram mudar de ramo. Compramos duas das lojas, inclusive aquela em que trabalhamos. Loucura! A situação dessas era pior, estavam quebradas, mas novamente apelamos pra empréstimos e levantamos.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Vida profissional


Eu e Sávio trabalhamos durante 3 anos numa pequena rede de lojas de comércio, algo bem comum mesmo. Aprendemos muito nesse tempo, aprendemos a parte operacional e eu aprendi um pouco da parte burocrática do negócio pois cheguei a ser gerente, o Sávio recusou esse convite, preferiu ficar no operacional.
O sonho de todos os peões daquela empresa era ter uma lojinha daquele ramo. Na época era algo bem rentável, ouvíamos histórias de colegas que estavam se dando bem como donos. Haviam oportunidades de compra dessas lojas aos montes, e como a gente estava trabalhando no ramo, os negócios apareciam aos montes. 


Nosso salário era bom, cerca de R$2 mil no começo dos anos 2000. Eu tinha um carro popular com 3 anos de uso e o Sávio também, mas o dele era um pouco mais velho. Também tínhamos um dinheirinho na poupança.  Não precisávamos ajudar em casa, mas gastávamos muito dinheiro com noitadas.


Um dia eu peguei um jornal de anúncios e me deparei com um anúncio de uma lojinha. Não era tão pequena, até que tinha um bom faturamento e claro, o preço era alto. Fomos visitar, adoramos o ponto, as instalações e vimos uma excelente oportunidade de começar nosso próprio negócio. Vendemos os carros, raspamos nossas poupanças, pegamos dinheiro emprestado de familiares, assumimos 36 parcelas com o antigo proprietário e encaramos o desafio mesmo sendo algo bem acima da nossa capacidade.


Vou detalhar em outro post, mas pra resumir não tínhamos capital de giro, o que nos obrigou a pegar empréstimos. O negócio cresceu, mesmo usando capital de terceiros, conseguíamos expandir e nos manter. Outras oportunidades de comprar lojinhas apareceram, chegamos a ter 4 lojas. Todas compradas com empréstimos, parcelas, promissórias, rolos, etc.


Sofri um sequestro relâmpago, levei um tiro, fiquei hospitalizado. O Sávio quase ficou louco cuidando das empresas e de mim. Sobrevivi sem sequelas além de 8kg a mais por ter ficado um longo tempo sem malhar.
Paramos pra analisar e nos demos conta que a vida é muito frágil, que nosso patrimônio de quase 3 milhões de reais não era nosso já que estava tudo financiado. Decidimos simplificar a vida, vendemos tudo, acertamos nossos empréstimos e recomeçamos com o pouco que sobrou.